O representante da Santa Sé em Hong Kong teria alertado os católicos da cidade a se prepararem para o fim das liberdades a que estavam acostumados, porque a China está apertando seu controle sobre o território.

A agência Reuters informou ontem (5) que dom Javier Herrera Corona, ex-chefe da missão da Santa Sé em Hong Kong e agora núncio apostólico no Congo e Gabão, fez quatro reuniões com as cerca de 50 instituições missionárias católicas de Hong Kong desde outubro do ano passado.

A agência dá como fontes quatro pessoas que participaram das reuniões.

Segundo elas, Herrera Corona advertiu nas reuniões que os missionários em Hong Kong devem se preparar para um futuro mais difícil e os aconselhou a proteger bens, fundos e arquivos.

“Uma mudança está chegando e é melhor que estejam preparados”, disse Herrera Corona aos missionários, segundo uma das pessoas consultadas pela Reuters.

Lei de segurança do governo chinês

No final de maio de 2020, o governo comunista chinês aprovou uma lei de segurança nacional, segundo a qual pode considerar “subversiva” qualquer interferência estrangeira que considere imprópria, argumento que pode ser usado contra os católicos em Hong Kong.

Em 2019, diz a Reuters, o então chefe da missão da Santa Sé em Hong Kong começou a enviar discretamente caixas de arquivos para o exterior para guardá-los e não permitir que sejam retidos pelas autoridades chinesas.

Três missões teriam começado o processo de envio de arquivos para o exterior.

Uma vítima da lei de segurança, criada pelo governo em resposta às manifestações pró-democracia de Hong Kong em 2019, foi o bispo emérito da ilha, o cardeal Joseph Zen, de 90 anos.

A prisão de Zen aumentou o senso de urgência para proteger a Igreja em Hong Kong, disseram seis missionários e um diplomata na China à Reuters.

Zen foi preso após uma investigação policial sobre interferência estrangeira em um fundo de apoio legal para os presos nos protestos de 2019.

Em maio deste ano, o cardeal Charles Bo, arcebispo de Yangon, Myanmar, e presidente da Federação Asiática de Conferências Episcopais, denunciou as graves ameaças à liberdade em Hong Kong, após a prisão do cardeal Zen em 11 de maio.

O cardeal Zen foi libertado sob fiança, devido à pressão internacional e depois que a Santa Sé manifestou preocupação com a prisão.

“Não se pode confiar na lei básica de Hong Kong”

Segundo as fontes da Reuters, dom Herrera Corona disse aos participantes nas reuniões que não dá para confiar nos direitos concedidos às instituições religiosas na lei básica, considerada quase como uma Constituição da ilha e que rege Hong Kong desde que deixou de ser governada pela Inglaterra em 1997.

A lei afirma que o governo não restringirá a liberdade religiosa ou interferirá nas organizações religiosas. Também consagra seus direitos de propriedade e caridade, bem como suas relações com outras organizações religiosas.

Um porta-voz da diocese de Hong Kong comentou que a liberdade religiosa está garantida aos cidadãos da ilha e que, até agora, a lei de segurança de 2020 não afetou as missões pastorais das missões estrangeiras.

Hong Kong tem cerca de 600 padres, religiosas e freiras. O bispo da diocese é dom Stephen Chow Sau-yan, que foi consagrado em dezembro de 2021.

Naquela ocasião, o bispo jesuíta disse que "como sucessor dos apóstolos, pela graça de Deus Todo-Poderoso, peço suas orações constantes para que eu seja sempre fiel à vontade do Senhor como pastor do Povo de Deus em Hong Kong e cumprir fielmente com meus deveres”.

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