O papa Francisco nomeou como prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos o arcebispo inglês Arthur Roche, bispo emérito de Leeds, até agora secretário da congregação. Roche substitui o cardeal guineense Robert Sarah, de 76 anos, cuja renúncia ao cargo foi aceita em fevereiro deste ano depois que o bispo completou 75 anos, idade estabelecida pelo Código de Direito Canônico para a aposentadoria. Sarah foi nomeado prefeito da Congregação para o Culto Divino em 2014 por Francisco. Durante os três meses em que o cargo agora ocupado por Roche ficou vago, a congregação passou por uma inspeção interna.

A Congregação para o Culto Divino “é o órgão competente para todas as questões litúrgicas da Igreja latina” e para tudo o que diz respeito à Sé Apostólica quanto “à promoção e regulamentação da Liturgia e, em primeiro lugar, dos Sacramentos”, diz a constituição Pastor Bonus, sobre o funcionamento da Cúria Romana, promulgada por João Paulo II em 1996.

Em uma entrevista em março deste ano ao Jornal National Catholic Register, Dom Robert Sarah se disse “feliz e orgulhoso por ter servido três papas - São João Paulo II, Bento XVI e Francisco - na Cúria Romana por mais de 20 anos".

As relações entre Sarah e Francisco não foram isentas de incidentes. No dia 5 de julho de 2016, Sarah convidou os sacerdotes em uma palestra em Londres, a celebrar a missa Ad Orientem, de costas para a assembleia, como na missa na forma extraordinária do rito latino, a partir do seguinte Advento. No dia 11 do mesmo mês a Santa Sé desautorizou publicamente o cardeal. Uma nota assinada pelo então diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, padre Federico Lombardi, afirmou: "Não estão previstas novas diretrizes litúrgicas a partir do próximo Advento, como alguns impropriamente deduziram a partir de algumas palavras do cardeal Sarah".

Na mesma palestra Sarah havia criticado a “devastação e o cisma que os promotores modernos de uma liturgia viva causaram ao remodelar a liturgia católica segundo suas próprias ideias”. Referia-se à reforma da liturgia iniciada depois do Concílio Vaticano II. Em seu livro “A Força do Silêncio”, publicado em 2016, Sarah escreveu: “Se Deus quiser a reforma da reforma será feita”. Segundo o cardeal, era “um desejo do papa” Francisco. Também essa afirmação do cardeal foi desautorizada pela nota do padre Lombardi. “É melhor evitar o uso da expressão ‘reforma da reforma’, em referência à liturgia, dado que às vezes foi fonte de equívocos”, disse Lombardi.

A última controvérsia ocorreu por causa do Sínodo da Amazônia. Os padres sinodais pediram ao papa permitir que homens casados fossem ordenados sacerdotes nos territórios amazônicos, o que poria em discussão o celibato sacerdotal em toda a Igreja. Sarah escreveu o livro “Des profondeurs de nos cœurs” (Do mais profundo de nossos corações), com dois capítulos de Bento XVI, defendendo a manutenção do celibato sacerdotal. A Santa Sé publicou nota dizendo que o papa não apoiava o fim do celibato em 13 de janeiro de 2020. Na exortação pós-sinodal Querida Amazônia, de fato, Francisco não atendeu o pedido sobre relaxar a exigência do celibato.  

“O Papa Francisco gosta de franqueza. Sempre trabalhamos juntos com simplicidade, apesar das fantasias dos jornalistas", disse o cardeal Sarah ao National Catholic Register.

O arcebispo Roche nasceu em Batley Carr, no Reino Unido, em 6 de março de 1950 e foi ordenado sacerdote em 1975, depois de se formar em teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Em 1996 tornou-se secretário-geral da Conferência Episcopal da Inglaterra e País de Gales. Em 2001, o papa João Paulo II o nomeou bispo-auxiliar de Westminster e no ano seguinte, bispo coadjutor de Leeds. Em 2004 assumiu o comando desta diocese e em junho de 2012, o papa emérito Bento XVI o levou ao Vaticano como secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.

Poucos meses antes de Sarah completar 75 anos, Roche escreveu um ensaio apresentado em 19 de fevereiro de 2020 na Pontifícia Universidade da Santa Cruz em Roma, em que afirma que São Pio V promulgou o missal do Concílio de Trento, concílio “que iniciou a continuação de um renovado interesse na Sagrada Liturgia que teve sua culminação 400 anos depois”, com a missa estabelecida pelo Concílio Vaticano II.

Como secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos o papa designou o bispo Vittorio Francesco Viola, O.F.M., que até o momento estava à frente da diocese de Tortona, no norte da Itália, e, como subsecretário, o sacerdote espanhol Aurelio García Macías, até o momento chefe de gabinete da congregação. Ele será ordenado bispo com sede titular em Rotdon, um cargo simbólico, já que Monsenhor Macías não será bispo de uma diocese territorial.  

O franciscano Viola nasceu em Biella, Itália, em 4 de outubro de 1965 e foi ordenado sacerdote em 1993. Possui uma especialização em liturgia no Pontifício Instituto Sant'Anselmo de Roma. Em 15 de outubro de 2014, o Santo Padre o nomeou bispo de Tortona. Dom Vittorio será elevado à dignidade de Arcebispo.

Monsenhor Aurelio García Macías, nasceu em 1965 em Pollos, perto de Valladolid. Especializado em liturgia pelo Instituto Sant'Anselmo, García trabalha na Congregação para o Culto Divino desde 2015.

O Padre Corrado Maggioni SMM, Subsecretário desta Congregação desde 5 de novembro de 2014, continuará no cargo.

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