Ser mulher, ou homem, não é só questão de biologia: “É a integração entre corpo, psique, cultura e liberdade”, disse a filósofa e bioeticista espanhola Marta Rodríguez, ontem, 27 de janeiro, durante um diálogo internacional entre mulheres católicas, promovido pela Rede Internacional de Mulheres da Academia Latino-Americana de Dirigentes Católicos.

Rodríguez defendeu para uma pateia online de mais de 500 pessoas da América Latina, incluindo o Brasil, a ideia de que o conceito e as teorias de gênero são compatíveis com uma visão antropológica cristã.

A rede é parte da Academia Latino-Americana de Dirigentes Católicos, fundada pelo padre chileno Jorge Arturo Medina Estévez e pelo cientista político também chileno José Antonio Rosas Amor, para “formar católicos que, a partir da experiência cristã, possam desenvolver a vocação política com o auxílio da Doutrina Social da Igreja”. Seu presidente é o arcebispo da Cidade do México, cardeal Carlos Aguiar Retes.

Para Marta Rodríguez o assunto “gênero” “exige aprofundamento, amadurecimento e com a plena consciência dos limites, mas também da oportunidade”.

“A proposta que acredito estar de acordo com a visão antropológica cristã é que a relação entre sexo e gênero surge como integração de todos esses elementos [corpo, psique, cultura e liberdade]. Nenhum deles pode ser colocado entre parênteses e nenhum vai funcionar sozinho”.

Para a bioeticista, “a igreja não compartilha da noção de determinismo biológico, segundo o qual todas as funções e relações dos sexos são estabelecidas em um modelo único e estático”.

Ex-chefe da seção feminina do Dicastério para Leigos, Vida e Família da Santa Sé nomeada pelo papa Francisco, Rodríguez citou a ‘Declaração de Interpretação do Termo “gênero” Para a Santa Sé’, de 1995 em defesa de seu pensamento.

“Espero não ofender ninguém, mas há algumas campanhas voltadas para as questões de gênero que dizem: ‘Mais biologia e menos ideologia’. Entendo a intenção, mas a igreja não compartilha da ideia do determinismo biológico”, disse.

O texto citado por Rodríguez, apresentado na IV Conferência Mundial para a Mulher, da Organização das Nações Unidas (ONU), diz: “A Santa Sé entende o termo «gênero» como fundado em uma identidade biológico-sexual, homem e mulher. Além disso, a Platafroma de Ação (cf. parágrafo 193, c) usa claramente a expressão «ambos os gêneros».

A Santa Sé exclui, assim, interpretações duvidosas baseadas em concepções muito difundidas, que afirmam que a identidade sexual pode adaptar-se indefinidamente, para acomodar-se a novas e diferentes finalidades.

Também não compartilha da nãoção de determinismo biológico, segundo a qual todas as funções e relações dos dois sexos estão estabelecidas em um modelo único e estático.”

Também foi discutido no evento o ‘feminismo católico’.

“Feminismo é uma palavra com má fama e bonito significado”, disse a teóloga argentina e consultora do Sínodo da Família, Marcela Mazzini. “Temos que compreender que estamos no início. Como comunidade eclesial, estamos formando esses diálogos e talvez tenhamos começado tarde, justamente por envolver temas que nos assustam, por termos medo de nos desviar, sair, então precisamos aprender a pensar e a pensar juntas”, disse Mazzini.

A teóloga citou a exortação apostólica Evangelii gaudium, do papa Francisco, que diz: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças.”

Mediadora do debate, Karina Ordoñez, coordenadora acadêmica do Instituto de Bioética da Universidade Finis Terrae, do Chile, disse que a principal intenção de encontros como esse é “criar um lugar de reflexões compartilhadas e iniciativas comuns para todas as mulheres que pretendem crescer na fé e aprofundar um olhar cristão sobre a realidade.”

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