A Igreja no Brasil celebra em agosto o mês das vocações, que neste ano tem como tema “Amados e chamados por Deus”. Se antigamente as vocações sacerdotais e religiosas eram desenvolvido no seio das famílias, hoje tem sido alimentado cada vez mais dentro da própria Igreja, segundo o presidente da Comissão Nacional de Presbíteros, padre José Adelson Rodrigues. Para o sacerdote, este fato evidencia a importância de que cada pessoa tenha consciência de seu “testemunho vocacional”.

“Antigamente, a vocação era muito alimentada na família. Costumava haver aquela ideia de que cada família deveria ter um padre. Mas isso foi mudando com o tempo e hoje vemos mais as vocações sendo alimentadas na Igreja, com jovens, coroinhas, pequenas comunidades, grupos de oração, movimentos, como a Renovação Carismática, novas comunidades, como a Shalom, entre outros”, disse à ACI Digital.

Segundo o presidente da Comissão de Presbíteros, neste cenário, há jovens que têm a vivência da fé católica em casa, mas há também aqueles “que são de famílias não muito católicas, mas discernem sua vocação na Igreja”. Por isso, afirmou que “é muito importante o testemunho e a orientação de sacerdotes, religiosos, catequistas, membros de pastorais”.  “O testemunho é fundamental, para que, apesar dos desafios, vejam o exemplo de amor ao serviço à igreja”.

Nessa mesma linha, irmã Clotilde Azevedo, da Congregação das Irmãs Apostolinas, afirmou que “antes a fé era mais tradicional e o filho seguia a fé dos pais”. Entretanto, “hoje, a juventude busca a própria fé e se depara com um pluralismo religioso”. Neste contexto, disse, “o jovem faz a sua escolha religiosa e o desenvolvimento vocacional passa por esse processo”.

As Irmãs Apostolinas (Congregação Nossa Senhora Rainha dos Apóstolos para Vocações) têm como carisma o cuidado das vocações e realizam sua missão através de várias iniciativas, como orientação espiritual, encontros vocacionais, retiros, formação para catequistas e animadores vocacionais. “Hoje, devemos trabalhar a perspectiva de ser Igreja”, disse irmã Clotilde. Para a religiosa, “o tema da cultura vocacional” está ganhando cada vez mais espaço e é preciso considerar que “não há vocação específica se não se trabalha a vocação cristã. A iniciação cristã é muito importante”, disse.

“A questão da vocação não é responsabilidade apenas de uma pessoa. A igreja é vocacionada, é a assembleia de chamados. A vocação é a essência da Igreja, todos são chamados por Deus e, por isso, deveriam ajudar o outro a também discernir o seu chamado. O Documento de Aparecida nos diz que o encontro com Jesus é o maior tesouro que podemos dar ao outro”, afirmou a religiosa.

Entretanto, irmã Clotilde chamou a atenção para o fato de que “na animação vocacional, muitas vezes há uma tentação a direcionar o chamado”, o que “é um erro”. “Vocação é dom, é presente de Deus a cada um. Então, podemos propor e não determinar a vocação de alguém”, afirmou.

Para ajudar neste processo de discernimento vocacional, cada diocese no Brasil conta com a Pastoral Vocacional. “Há o trabalho da pastoral nas dioceses e, em algumas paróquias, encontramos grupos de animação vocacional que buscam orientar para a vocação aos ministérios ordenados, à vida consagrada, mas também para as famílias. É importante ajudar as pessoas a descobrirem qual é o seu chamado, o que lhes faz feliz”, disse padre José Adelson.

A realidade das vocações no Brasil

Hoje, no país não há dados oficiais atualizados sobre as vocações aos ministérios ordenados e à vida consagrada. Entretanto, membros de entidades que trabalham com as vocações consideram que mais do que números, o que deve ser observado é a qualidade do discernimento vocacional. “Independente da quantidade, o que temos que ver é a qualidade e hoje o acompanhamento das vocações melhorou”, disse irmã Clotilde Azevedo.

No caso da vida religiosa, por exemplo, a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB Nacional) estima que haja no país 19.548 religiosos com votos perpétuos, 5.569 com votos temporários e 2.267 religiosos clérigos. Segundo irmã Clotilde, na vida religiosa feminina é possível observar “um envelhecimento das vocações e um menor número”. Por outro lado, disse, “há uma busca de qualidade na vivência da vocação e o processo de discernimento está mais criterioso, o processo de acompanhamento melhorou, por isso, vejo o cenário com otimismo”.

Em relação aos sacerdotes, o presidente da Comissão de Presbíteros contou que antes da pandemia de covid-19 havia aproximadamente 26 mil padres diocesanos no Brasil, em comparação com cerca de 24 mil em 2010.

Após passar pelo processo de discernimento, formação e ser ordenado sacerdote, estes padres contam também com um apoio para se manterem perseverantes na vocação. “Há a Pastoral Presbiteral, pois o padre precisa cuidar de si para cuidar dos outros”, disse padre José Adelson. Segundo ele, “esta pastoral deve acompanhar, orientar, rezar, fazer uma formação permanente”.

No que diz respeito aos seminaristas, o presidente da Organização dos Seminários e Institutos Filosófico-Teológicos do Brasil (OSIB), padre Jerônimo Batista Araújo, afirmou que este número “é muito flutuante”, pois todos os anos a seminaristas que entram e saem dos seminários. Segundo ele, “o seminário é um lugar de discernimento vocacional e não só o seminarista deve ter essa consciência, como todas as pessoas”.

“Quem entra vai se colocar em escuta para discernir qual é o chamado de Deus para si”, afirmou. Por isso, disse que o fato de ter um número muito flutuante de seminaristas não é algo negativo. “Nossa tarefa é ajudá-los a bem discernir e ficam no seminário aqueles que fazem bem este discernimento e têm a vocação”.

Há ainda no Brasil os diáconos permanentes. Segundo o presidente da Comissão Nacional dos Diáconos, diácono Francisco Salvador Pontes Filho, atualmente existem cerca de 6 mil diáconos permanentes no país e “há metade desse número em preparação nas dioceses para receber o diaconato”.

“Esta é a vocação que mais cresce no Brasil e no mundo”, disse. Para ele, isso se deve ao fato de que “o diaconato permanente é uma vocação encantadora, pois o diácono está inserido na realidade das comunidades”. “O diácono está a serviço da Igreja, ajuda nos batizados, matrimônios e, por estar mais próximo do dia a dia daquelas pessoas, é mais fácil de atendê-las”, afirmou.

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